domingo, 24 de novembro de 2013

RELIGIÃO PRAGMÁTICA

O pragmatismo, doutrina sustentada inicialmente por Charles Sanders Peirce, famoso filósofo americano (1839-1914), chegou a ser uma filosofia de âmbito mundial, propagada por William James, que hoje é considerado seu criador. Dizem que pragmatismo significa utilidade prática> creio, entretanto, ser mais adequado aplicar o temo “ativismo”.

Acho desnecessário falar muito a respeito, porque se trata de uma teoria conhecida por todos aqueles que se interessam pela filosofia. O que desejo falar agora, é sobre pragmatismo religioso. Já me referi uma vez a esse tema, mas torno a abordá-lo, para melhor compreensão.

Quando falamos em ativismo religioso, temos a impressão que todas as religiões estejam praticando ações baseadas na fé. Todos conhecem propagandas por escrito, sermões verbais, orações, cultos, rituais religiosos, ascetismos e mortificações; infelizmente, porém, as religiões ainda não atingiram a vida prática. Em verdade, não passam de cultura mental.

O pragmatismo filosófico introduz a filosofia na vida prática, acentuando, neste ponto, o caráter americano. Pretendo fazer o mesmo, com uma diferença: fundir a religião e a vida prática, tornando-as íntima e inseparáveis. Deixemos, pois de ostentar virtudes, de isolar-nos, de ser teóricos como foram até hoje os religiosos, e sejamos iguais às pessoas comuns. Para tanto, é preciso que eliminemos toda afetação religiosa e procedamos sempre de acordo com o senso comum, a ponto de tornar a fé imperceptível aos outros. Isso vem a ser a apropriação completa da fé.

Com essa explicação, creio que puderam entender o que vem a ser ativismo religioso.

Alicerce do Paraíso, volume 4, 30/maio/1951

PRAGMATISMO

Na mocidade, apreciei muito a filosofia. Entre as inúmeras teorias filosóficas, a que me mais me atraiu foi o pragmatismo, do famoso norte-americano William James (1842-1910).

James achava que a exposição meramente teórica da filosofia constitui apenas uma espécie de distração: para ele, a filosofia só era válida se fosse colocada em ação. Acho interessante sua teoria, cujo realismo autêntico é característico dos filósofos americanos. Aderi, portanto, às suas ideias e me esforcei por adotá-las em meu trabalho e na vida cotidiana.

O benefício que o pragmatismo me proporcionou naquela época, não foi pequeno. Mais tarde, quando iniciei meus trabalhos religiosos, julguei necessário aplicá-lo à religião. Isto significa ampliar o campo religioso de modo que abranja  a vida em geral. Então, o político não cometeria injustiças, porque, visando à felicidade do povo, promoveria uma administração, granjeando, assim, a confiança de todos. O industrial obteria a admiração da coletividade, pois exerceria a profissão honestamente; seus negócios progrediriam com segurança, porque ele mereceria a estima de seus empregados que seriam fiéis no trabalho. O educador seria respeitado e teria notável influência sobre seus discípulos, educando-os com base sólidas. Os funcionários e os assalariados em geral subiriam de posição, porque a fé produz bom trabalho. A alma do artista irradiaria de suas obras, com grande elevação e força espiritual, exercendo influência benéfica sobre o povo. O ator, no palco, manifestaria nobreza, porque suas representações seriam baseadas na fé, e os espectadores receberiam o reflexo de seus sentimentos elevados. Entretanto, isso não significa que as coisas se processassem com rigidez didática: tudo deveria ser agradável e atraente.

É fácil imaginar como melhoraria o destino dos indivíduos e como eles se tornariam úteis à sociedade, se seus atos fossem iluminados pela fé, qualquer que fosse sua profissão ou situação.

Haveria, certamente, um cuidado especial: o pragmatismo religioso não deveria transformar-se em fanatismo, pois todo exagero é desagradável. A ostentação religiosa é uma das piores que há. Existem muitas criaturas que exibem atitudes de religiosidade. Isso aborrece os outros O ideal é ser natural, ser uma pessoa simples, pondo apenas mais gentileza e nobreza nos atos. Em uma frase: ser polido, eliminando a fé grosseira. Alguns devotos têm atitudes que lembram as dos psicopatas. São extremamente subjetivos, fazem do lar um ambiente triste, importunam os vizinhos e suscitam desconfiança sobre a religião que seguem. A culpa, no entanto, é de quem orienta; por isso, o ato de orientar requer muita prudência.

Alicerce do Paraíso, volume 4 , 25/janeiro/1949