quarta-feira, 28 de março de 2012

“O único poder que constrói um mundo de paz, é o makoto.”

O amor à pátria parece ser comum a todos os povos. Talvez não exista um só país que não o adote como regra de ouro e máxima do civismo. No Japão também, até o fim da guerra, um forte sentimento de amor à pátria tomava conta de toda a população. Uma das causas, naturalmente, era o regime imperialista, em que o Imperador era o símbolo do povo, adorado como a encarnação de Deus. O fato está nitidamente gravado em nossa memória.

É obvio que o respeito e a crença na eternidade da família imperial criaram esse sentimento no povo e que certo grupo de ambiciosos e de governantes exerceu enorme influência sobre o ensino e a propaganda, fazendo com que tudo saísse a seu favor. Como resultado, construiu-se uma nação singular, como jamais se viu outra igual. Considerando-se um país Divino, o Japão acabou caindo na auto-satisfação, fez-se de “filhinho mimado”, sem ao menos ser tão rico assim. Habilmente, os escolásticos insuflaram esse complexo de superioridade em termos lógicos e históricos, o que foi desastroso. Assim, o sentimento de lealdade e patriotismo assolou o país inteiro, e o povo acabou por achar muito normal fazer qualquer coisa em prol da nação e do Imperador, até mesmo sacrificar a própria vida. Isto era considerado o mais elevado ato moral.

Com a perda da guerra, o orgulho dos japoneses voou longe e, ao contrário, até nasceu neles um sentimento de inferioridade. Nessa ocasião, houve uma declaração do Imperador que deixou o povo perplexo: “Eu não sou Deus, sou um homem”. Surgiu, então, a nova Constituição, que dizia estar o poder nas mãos do povo. Dessa forma, o Japão se tornou uma nação democrática. Foi realmente um acontecimento inédito desde o começo de sua existência histórica. Além disso, a mudança de posição do Imperador, que antes se colocava na posição de Deus, determinou que, à exceção dos intelectuais, o futuro da grande massa popular, já sem razão de existência, ficasse totalmente obscuro. E todos sabem que o povo acabou por perder o rumo, situação que continua até os dias de hoje.

A propósito, houve um fato muito engraçado. Logo após o término da guerra, todas as pessoas que se encontravam comigo diziam, com expressão desapontada: “O ‘vento Divino’ acabou não soprando, não é?” Então eu respondia: “Não digam tolices. O “vento Divino” soprou, mas você o estavam interpretando erradamente. Em verdade, a Vontade de Deus é ajudar o Bem e castigar o Mal. Já que o Japão é que estava errado, é natural que tenha perdido a guerra. Portanto, ao invés de nos lamentarmos, deveríamos agradecer e até comemorar. Como não podemos fazer isso, temos de ficar quietos, mas virá o dia em que todos compreenderão a verdade”. Ouvindo essas palavras, as pessoas diziam: “Entendi perfeitamente”, e voltavam alegres para suas casas.

Através desse fato, podemos ver que os japoneses deixavam em segundo plano o que é bom e o que é mau, quando se tratava de assuntos relativos à Nação. Pensando apenas no seu próprio bem, chegaram a criar e propagar o “slogan” “Hakko iti u” (o mundo sob a égide do Japão) e a julgar que, se o seu país estivesse bem, pouco importavam os outros países. Isso foi considerado lealdade e patriotismo, e assim os japoneses vieram avançando como cavalos refreados a cabresto. Desde essa época, portanto, estava sendo plantada a semente terrível da catástrofe.

Quando pensamos em tudo isso, compreendemos que o amor à pátria deve estar de acordo com a época. Além do mais, se não for com base no conceito do Bem e do Mal, do certo e do errado, é impossível formar um plano a longo prazo, em termos nacionais. Sendo assim, vou mostrar o sentimento de amor à pátria que está de acordo com a era vindoura.

Em termos mais claros, o fundamental é tornar “Daijo” o pensamento do Japão, que até então era “Shojo”. Sintetizando: criar o amor internacional, o amor humanitário, isto é, amar o mundo por amar o Japão. Atualmente, tudo está se tornando universal e internacional, e as aspirações independentes e transcendentais já se tornaram sonho do passado. Consequentemente, em termos concretos, o amor à pátria, daqui para frente, deve consistir, antes de mais nada, em tornar segura a vida de nossos irmãos – noventa milhões de pessoas – e fazer do Japão uma nação justa, baseada na moral, merecedora do respeito do mundo inteiro. A propósito, existe o problema do rearmamento, que está em ativa discussão. As teses desfavoráveis e contrárias acham-se em confronto há algum tempo e não se obtém nenhuma solução. Entretanto, acho que não é um problema tão difícil assim. Encarando-o como um problema real, logo compreenderemos a solução adequada, ou seja, abandonar o rearmamento se houver garantia de que não há absolutamente nenhum país que possa invadir o Japão; caso contrário, fazer uma defesa de acordo com a capacidade do país.

Alicerce do Paraíso, “Novo conceito de amor à Pátria” – 03/dezembro/1952

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